Parkinson: estudo relaciona bactérias na boca à perda cognitiva





Um novo estudo indica que alterações nas bactérias da boca e do intestino podem estar associadas ao declínio cognitivo em pessoas com Parkinson. A pesquisa, conduzida pelo King’s College London, identificou que mudanças no microbioma das regiões poderiam ser os primeiros sinais da progressão da doença.


As descobertas mostram que as modificações bacterianas podem sinalizar estágios iniciais de declínio cognitivo, que são o início do processo de demência.



A análise, publicada na revista científica Gut Microbes em 27 de maio, avaliou amostras de fezes e saliva de 228 participantes. Entre os voluntários estavam pacientes com Parkinson em diferentes estágios de comprometimento cognitivo e pessoas saudáveis, sem diagnóstico da doença.




O que é o Parkinson?



  • O Parkinson é uma condição crônica e progressiva causada pela neurodegeneração das células do cérebro.

  • Estima-se que cerca de 10 milhões de pessoas no mundo tenham a doença.

  • A ocorrência é mais comum entre idosos com mais de 65 anos, mas também pode se manifestar em outras idades.

  • A doença atinge principalmente as funções motoras, causando sintomas como: lentidão dos movimentos, rigidez muscular e tremores.

  • Os pacientes também podem ter diminuição do olfato, alterações do sono, mudanças de humor, incontinência ou urgência urinária, dor no corpo e fadiga.

  • Cerca de 30% das pessoas que vivem com Parkinson desenvolvem demência por associação.




Transferência bacteriana


Os cientistas observaram diferenças relevantes nas comunidades bacterianas entre os grupos. Houve uma relação proporcional entre os fatores: quanto maior a quantidade de bactérias, pior o estado de declínio cognitivo.


Indivíduos com os sintomas iniciais de demência apresentaram mais bactérias nocivas no intestino, muitas delas com provável origem na boca.


Esse fenômeno, conhecido como “translocação oral-intestino”, envolve a migração de microrganismos da cavidade bucal para o intestino. Uma vez ali, as bactérias podem liberar toxinas que prejudicam tecidos, provocam inflamações e, possivelmente, afetam funções cerebrais.


Presença das bactérias é causa ou efeito da doença?


Segundo o gastroenterologista Frederick Clasen, primeiro autor do estudo, ainda não é possível afirmar se essas bactérias causam diretamente os sintomas cognitivos ou se são consequência das mudanças no organismo causadas pela doença.


“Ainda não sabemos em que ponto essas alterações aparecem, mas nossas descobertas sugerem que elas podem desempenhar um papel ativo no agravamento dos sintomas”, explicou Clasen. Ele também destacou o potencial dessas moléculas como alvos terapêuticos em futuros tratamentos que visem proteger o cérebro.


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Parkinson é uma doença neurológica caracterizada pela degeneração progressiva dos neurônios responsáveis pela produção de dopamina

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Esse processo degenerativo das células nervosas pode afetar diferentes partes do cérebro e, como consequência, gerar sintomas como tremores involuntários, perda da coordenação motora e rigidez muscular

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Outros sintomas da doença são lentidão, contração muscular, movimentos involuntários e instabilidade da postura

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Em casos avançados, a doença também impede a produção de acetilcolina, neurotransmissor que regula a memória, aprendizado e o sono

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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar de a doença ser conhecida por acometer pessoas idosas, cerca de 10% a 15% dos pacientes diagnosticados têm menos de 50 anos

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Não se sabe ao certo o que causa o Parkinson, mas, quando ocorre em jovens, é comum que tenha relação genética. Neste caso, os sintomas progridem mais lentamente, e há uma maior preservação cognitiva e de expectativa de vida

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O Parkinson não tem cura, mas o tratamento pode diminuir a progressão dos sintomas e ajudar na qualidade de vida. Além de remédio, é necessário o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. Em alguns casos, há possibilidade de cirurgia no cérebro

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Quais bactérias foram encontradas?


O microbiologista Saeed Shoaie, coautor do estudo, reforça a importância da pesquisa para comprovar a relação entre distúrbios no eixo intestino-cérebro e danos neurológicos. Ele destaca a Porphyromonas gingivalis, bactéria ligada a doenças gengivais, como possível gatilho também no Alzheimer.


“As comunidades bacterianas intestinais e orais humanas estão cada vez mais associadas a doenças neurodegenerativas. Distúrbios no eixo intestino-cérebro podem desencadear inflamação e respostas imunológicas que contribuem para danos neuronais”, diz ele.


Estratégia de prevenção


Para os pesquisadores, a hipótese é que manter um microbioma equilibrado, com dietas balanceadas e práticas adequadas de higiene bucal, pode mitigar a progressão da neurodegeneração. Probióticos também foram mencionados como possíveis intervenções para melhorar o microbioma.


Nos últimos cinco anos, as evidências que indicam que o Parkinson pode começar no intestino, anos antes do aparecimento dos sintomas motores, têm se avolumado. Segundo especialistas, alterações no olfato e funcionamento intestinal são sinais que podem surgir bem antes da rigidez e lentidão características da doença.


Segundo a neurologista Vanessa Milanese, da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBNC), que não participou do estudo, os sintomas iniciais do Parkinson são muitas vezes confundidos com envelhecimento natural, o que atrasa o diagnóstico.


“O envelhecimento pode levar a uma diminuição gradual na capacidade física e mental, mas isso geralmente ocorre de forma lenta e gradual, enquanto o Parkinson pode causar sintomas mais dramáticos e que se desenvolvem mais rapidamente”, diz ela


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